Escrever sobre o conceito “Ética” deveria ser relativamente fácil…
Tomemos como ponto de partida as boas relações humanas que decorrem de um conjunto de atitudes e comportamentos adequados para o nosso quotidiano: não fazer uso de objetos que não nos pertencem, encontrar um erro na conta do restaurante e avisar o funcionário para que seja cobrado o valor correto, tratar as pessoas com deferência, não discriminar, ser humilde, não mentir. Poderíamos continuar esta longa enumeração e não chegaríamos ao cerne da questão.
Se, durante um jantar de amigos, casualmente, vos questionassem: «O que é a ética?» ou «O que é ser ou não ser ético?». O que responderiam?
Depois de alguma reflexão, inevitavelmente, chega-se à conclusão que este assunto é, de facto, muito complexo e que é um tema que tem feito correr rios de tinta nos media ao longo dos anos. Motivo de debates acalorados, muitas vezes mais ricos em posturas emocionais do que em serenas reflexões intelectuais. Por isso, provavelmente, dois dedos de conversa acompanhados de um bom vinho não seriam suficientes para conversar sobre esta matéria.
Sabemos que a ética nasce da moral de cada grupo social inserido numa sociedade, com o intuito de aprimorar a sobrevivência e a convivência dos que lá se fazem presentes. Assim sendo, ambas são fruto do contexto histórico e dos diálogos existentes – ou que deveriam existir – entre os indivíduos, tendo em conta que todas as pessoas pensam e sentem de formas diferentes.
Surge, então, uma palavra chave no debate deste tema: «DIÁLOGO ».
Sabe o ditado que diz «É a falar que nos entendemos»? Não temos a certeza se será sempre assim, mas é sabido que um bom debate nunca deixou que o intelecto dos seus participantes ficasse empobrecido.
Todos os bons debates dependem da eficácia dos seus moderadores. Foi através desta analogia que nos ocorreu o seguinte pensamento: «O diálogo entre a ciência e a sociedade é mediado pela ética».
Posto isto, a reflexão adensa-se com o aparecimento da ciência na equação.
O bem-estar social deve ser a finalidade da ciência, conduzida pela ética daqueles que a desenvolvem, das empresas e dos laboratórios de investigação. Contudo, as empresas, como ambientes corporativos, visam o LUCRO!
É possível existir uma boa ética científica num ambiente corporativo?
Para Karl Marx não. Segundo este filósofo, se o objetivo de uma empresa é o lucro, como uma “mais valia”, essa meta só será alcançada retirando essa “mais valia” a outros. Para o autor, o capitalismo e uma boa ética não são compatíveis.
É possível construir no âmbito de o diálogo entre uma Ciência, que comunique, uma Sociedade, que participe, e uma Ética, que relacione. Existe, por isso, a necessidade da existência de uma nova ética no mundo globalizado.
Foi como contributo que a Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD), realizou o projeto «Ethics, Science, and Society». Destacam-se alguns dos desenvolvimentos científicos e tecnológicos de ponta – numa dimensão informativa tão rigorosa e objetiva quanto clara e acessível –, os seus maiores impactos nas sociedades contemporâneas – numa dimensão formativa e responsabilizadora de todos os intervenientes, desde os cientistas ao cidadão comum, passando pelos políticos e entidades financiadoras.
Não estamos certas que a importância da ciência para o progresso da sociedade seja atualmente subestimada. Cremos que essa realidade se verificou há algumas décadas atrás, quando uma ampla maioria da população portuguesa não tinha conhecimento do impacto do progresso científico na vida coletiva e, sobretudo, na vida individual, porque, afinal, é quando esse impacto se reveste de uma dimensão pessoal que ganha densidade em cada um de nós.
Tomemos como exemplo: nascimento e morte. As realidades naturais e universais da vida, e que, hoje em dia, estão condicionadas pelo progresso das biotecnologias. Não nos referimos apenas à assistência clínica no princípio e fim de vida, promovendo a saúde no primeiro e a serenidade psicofísica no segundo. Sublinhamos antes a capacidade de gerar vida no contexto de infertilidade, através da reprodução medicamente assistida, ou de suspender a morte, mediante meios de suporte vital.
Estes avanços científico-tecnológicos suscitam tanto o entusiasmo como o medo. Sentimentos contraditórios que acompanham a relação do cidadão comum com estes novos horizontes: uns atraídos pelo novo, atiram-se vertiginosamente para o inédito, querendo sempre mais; outros, receosos pelo que não conhecem, paralisam perante a inovação, rejeitando indiscriminadamente tudo o que é novo.
É este tipo de discussões que pretendemos criar neste blog.
Já dizia o cientista Elvin C. Stakman «Science cannot stop while ethics catches up ... and nobody should expect scientists to do all the thinking for the society» por isso, envolva-se e informe-se sobre o progresso do mundo através deste blog PharmEthic - ‘O difícil diálogo entre a Ciência e a Ética’.
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